Total de visualizações de página

quarta-feira, 27 de abril de 2016

A vida é difícil

A vida é difícil
A gente sabe que é
Mas pode ser fácil
Basta você ter fé.

Problemas existem
Mas podem ser superados
Entrega pra Deus
Seu melhor advogado.
Jose Domingos da Silva

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Perdidade

       Na rua onde moro tem um pé de árvore.
       Outro dia apareceu um macaco num dos galhos, observou a movimentação da rua e ficou assustado com a experiência.
       O pescoço ia e voltava acompanhando pessoas e carros que não paravam.
       O macaco tentou entender tanto vai e vem:
       - Ei? Oi? Olha aqui?
       Ninguém deu bola ao macaco. Até que, de tanto insistir, alguém falou com ele.
       - Onde você vai? E aquele outro, vai onde? - perguntou o macaco.
       Um passante respondeu:      
       - Vou na padaria comprar pão pra comer. Aquele outro não sei onde vai.
       A todos os passantes o macaco fazia perguntas e percebeu que iam na lan house, mercadinho, shopping, açougue, postinho, pizzaria, pesqueiro, loja de fantasia... Não param! Vão de novo, todo os dias. De manhã, a tarde e até de noite, madrugada, todo instante estão indo buscar coisas.
       Arrematou o macaco:
       - Eles vão comprar o que comer! Eles não sabem fazer comida! Um não sabe o que o outro faz! Isso não é uma cidade, é uma perdidade!
       

Escola pública e privada

     O céu e o inferno são problemas que a religião nunca resolverá, as pessoas nunca terão certeza da existência ou não desses lugares e por isso mesmo, na dúvida, todas as religiões sustentarão uma idéia ou outra. Mas há uma coisa muito positiva nessa história. Ninguém é obrigado a acreditar no céu ou inferno, ninguém é obrigado a seguir um doutrina religiosa, ao contrário de estudar no ensino público ou privado.
     O sistema escolar público é incoerente, manquitolo e deficitário. O privado é egoísta, individualista e ocidentalista.
     A incoerência do sistema escolar público se dá pelos educadores que trabalham ensinando, mas não acreditam na qualidade que praticam, tanto que matriculam seus filhos no sistema privado.
     Ao mesmo tempo que tenho de ir a luta pela defesa da escola pública, devo brigar contra o mercenarismo de professores e gestores.
     O sistema é enfadonho e a vontade e criatividade para melhorar o sistema público de educação é vergonhosa.
     Num ponto a direita tem razão. Muitos servidores se escoram na estabilidade e na perspectiva da pressão de greve para melhorar o salário
    
Só pra ilustrar essa situação, já fui em velório de um monte de aluno.
    A morte por bala de um ex-aluno mobilizou a escola inteira, já a apresentação cultural do ex-aluno não gerou nenhum interesse dos educadores.

Espiritualidade do caminho

     Só há uma explicação para participar de um retiro espiritual: querer se libertar. É tempo de graça e não de moral. É gratuidade de Deus em mim e não do meu merecimento. abandonar-se a Jesus não é esforço, não é empurrar a canoa, mas entrar dentro da canoa. Relacionar com Jesus.
    
Experiência de Deus
     O povo hebreu sentiu-se chamado a caminhar em busca de um tesouro. A terra prometida era uma necessidade para eles, mas era muito mais que isso. O povo hebreu caminhava ao encontro de Deus. Aquele povo não se conteve com tanta manifestação divina: Abraão, Isaac, Jacó e José testemunharam isso e não se cansaram. Tem muita gente que caminha ao encontro de Deus mas não sabe onde quer chegar. Não tem um objeto a alcançar. Como encontrar Deus sem ter alguma conquista na mira? Assim como Deus fez sua aliança com os homens e os homens fizeram sua aliança com Deus, também por isso ocorreu a grande romaria. Isso é muito claro para nós. Quando chegamos as seis da manhã nas quartas-feiras, pra rezar na comunidade, a gente sente que pedimos a Deus e agradecemos porque ele também nos pede e nos agradece.

domingo, 24 de abril de 2016

Agosto

       O vento derruba as folhas das arvores que, sem vida, sem importância a vida das arvores, as folhas dão lugar as flores e frutos que virão na primavera.

sábado, 23 de abril de 2016

Poesia no muro



O muro é um papel
Sem lauda e rebocado.
Traz conteúdo ao povo andante
Deixa o poder despoderado.

É pagode pro violeiro
A força da soberania
Nariz para o palhaço
E o café de todo dia.

A pessoa nunca desiste
Onde avista poesia
Minha mãe sempre disse
Se tiver letra tem alegria.
                                               Curitiba, 04/02/2016, José Domingos da Silva

O guerreiro virtuoso



                A lua desabrochava no céu e brilhava muito. Eu caminhava lentamente pela rua da comunidade, desolado, cabisbaixo, sem saber a razão do brilho descomunal.
                Olhei pro céu e vi que a lua tinha um brilho mais intenso que todas as luas que vi desde que nasci.
                Continuei caminhando sem saber a razão de tanta luz.
                E perguntava a mim mesmo:
                - por quê?
                Lembrei de alguns ensinamentos da infância. Meus avos diziam que São Jorge era um guerreiro das virtudes, estava montado em seu cavalo e para sempre apareceria no centro da lua. E toda vez que a lua brilhar intensamente, significa a morte de um guerreiro das virtudes. Significa que há na lua mais um guerreiro virtuoso para olhar por nós, pra clarear nossa razão, implorar que ergamos nossas cabeças e não cansemos de lutar pela justiça.
                As nove horas da noite um amigo me ligou avisando a morte de Pelegrin, um virtuoso guerreiro, defensor dos direitos dos deficientes físicos.

O arquivo

    O arquivo morto é a parte mais esquecida da escola. Não é a toa que recebe o nome de morto.
    No colégio onde trabalho não é mais assim. Um esforço coletivo da equipe administrativa deu vida e visibilidade ao morto. O arquivo recebeu outro nome, passou a se chamar Inativo e ter importância significativa no desempenho do atendimento a comunidade e na facilidade de arquivamento de dados dos estudantes e funcionários.
    Não foi uma tarefa fácil reorganizar o morto, afinal, morto é um ser sem vida, que tem valor simbólico, enquanto que inativo é um ser vivo, plenamente capaz de regressar a  escola e retomar seus estudos. Inativo também é um ser que ultrapassou todos os degraus na escola, esta em plena atividade educacional, talvez numa faculdade, noutra escola, sempre desempenhado seu papel na sociedade.
    Por exemplo, no arquivo inativo tem a pasta de um líder do movimento negro de Curitiba que realiza um trabalho importante na emancipação dessa classe social; tem a pasta do presidente de uma grande empresa de Curitiba; do diretor do colégio, de agentes educacionais, servidores do Estado, e por ai segue... enfim, o arquivo é significante, conta historia de vidas que abstraíram as dificuldades do dia-a-dia, as derrotas da vida e transformaram tudo em valores essenciais para vitoria pessoal.
    O arquivo morto era um grande numero de gavetas metálicas que sempre emperravam e causava acidentes de trabalho. Todos os companheiros e companheiras da equipe administrativa tiveram cortes nas mãos causados por partes cortantes daquelas gavetas. Emperradas, elas necessitavam de esforço físico descomunal, irritando a paciência e a coluna dos funcionários.
    Agora é tudo diferente. Sem gavetas metálicas, as quais são ecologicamente incorretas, usa-se caixas de papel que podem ser recicladas. No lugar da aventura de abrir e fechar gavetas em busca de uma ordem alfabética, basta um “CTRL F” num arquivo XLS e pronto. Localiza-se em segundos a informação desejada.
    Nos seus tantos anos de história o colégio tem milhares de indivíduos que adquiriram a cidadania, condição de cidadãos, com a contribuição dessa escola. Alguns estudaram por alguns meses, outros por um ou dois anos, muitos até dez anos, mas a maioria completou o ciclo da educação básica cursando séries do antigo primário, hoje ensino fundamental, e do antigo segundo grau, atual ensino médio.
    O arquivo inativo da escola guarda ainda outras histórias essenciais para o entendimento do que é uma comunidade. Algumas prateleiras parecem bocas abertas e sorridentes à contar que homens e mulheres aprenderam oficios em cursos técnicos e estão operando fábricas, indústrias e o comércio da cidade. Outros estão nas mais diversas áreas do serviço público à serviço da qualidade de vida das pessoas.
    Sem mais delongas, jovens e adultos que estavam ausentes, excluídos da vida escolar, tiveram e aproveitaram a oportunidade de retornar a vida estudantil. Venceram o estigma da incapacidade de aprender e tambem são lembrados no arquivo inativo.

    

Eis questão!



 O que é certo dizer?
É melhor roubar e não passar fome ou passar fome e não roubar? Certamente o Chicó, personagem de Selton Mello, do filme O Auto da Compadecida, diria que depende do tamanho da fome e da grandeza do roubo, enquanto o Padre João, personagem de Rogério Cardoso no mesmo filme, diria que tudo que acontece conosco é da vontade de Deus, inclusive a fome; temos que aceitar as coisas como Deus manda e nunca se rebelar contra suas ordens.
                Em Curitiba, a cada dia essa discussão ganha corpo. E não é nas academias ou nas rodas de nobres, é no cotidiano, no vai e vem das pessoas e no contraste entre as lutas de muitos pela sobrevivência e os esquemas de poucos pela manutenção de privilégios.
                Ainda ontem uma mulher de trinta e seis anos de idade, “furou o tubo” entrando pela porta traseira do ônibus biarticulado Circular Sul. Consigo duas crianças, uma menina de oito anos e menino de onze. Mais que depressa a mulher tratou de acomodar-se atrás de mim e de outros passageiros que estavam em pé, impedindo que o motorista a visse. As crianças não se importaram onde ficar. Pareceu uma atitude comum àquela família “fura tubo”. A mim também parece uma cena comum pois vejo “fura tubos” pelos dez cantos da cidade.
                E o motorista?
                Esse agiu como dizia minha avó. Olhos e ouvidos de mercador.
                Na mocidade de minha avó o mercador ia de casa em casa vender de tudo. Garantia até o impossível, inclusive trocar o produto por outro caso o comprador não ficasse satisfeito. Após uma compra surgia os defeitos e o mercador não dava ouvidos a reclamação e nem olhava os defeitos, convencendo na maioria das vezes o comprador a adquirir outro produto. Minha avó era preconceituosa e atribuía estigma de judeus e turcos a todos os mercadores e a todas as pessoas que fazem vistas grossas aos defeitos de suas ações e não escutam as reclamações aos serviços que prestam e concluía: são tudo farinha do mesmo saco.
                O motorista fechou as portas do ônibus e seguiu o trajeto.
                Falar a verdade é bom, pois quem fala a verdade não merece castigo. Qual é a moral dessa história? Eu não sei, mas estou convencido que:
                1º - A mulher é um ser humano empobrecido que não tem R$ 10,50 para pagar as três passagens;
                2º - se motoristas e cobradores obrigassem todos os “fura tubos” a sair dos ônibus, não cumpririam os horários pré-estabelecidos e seriam multados;
                3º - “fura tubos” é um programa alternativo de justiça social que existe no sistema de transporte coletivo, iniciativa dos usuários empobrecidos, pois outros programas oficiais são meras fantasias.
                4º - por fim, metade da idade da mulher  é mais ou menos o tempo que um grupo político governa Curitiba e o Estado do Paraná.
Fazem vinte anos que prometeram a emancipação econômica do pobre no Paraná.
                Eis a questão!
·         De uns tempos pra cá a cidade de Curitiba passou a ser dividida em regionais. Cada ano pode surgir uma nova regional. Quando escrevi o rascunho dessa crônica havia oito e agora são dez regionais.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Diário dos lutadores



“O frio está intenso.”
                Frase comum de pessoas que chegam do interior pra morar na capital.

“Oi que prazer que alegria o nosso encontro de irmãos.”
                Mantra popular salmodiada pelas pessoas em serviço nas comunidades.

“Me escondo nesse barraco.”
                Frase comum entre os jovens de uma ocupação urbana.

“Somos pobres, que fazer.”
                Comentário proferido com tom de conformação das dificuldades encontradas no dia a dia.
“Nem que tudo que reluz é ouro.”
                Provérbio muito usado em reflexões feitas por animadoras e animadores de comunidades eclesiais. Normalmente refere-se a necessidade da comunidade nunca se conformarem com promessas.
“Temos que criar um Palmares e um quilombo para conscientização da comunidade negra e resgatar seu valor para a história.”
                Mais que parte de um dialogo, essa frase é o anúncio de um projeto consciente dos negros organizados.
“Que saudade da mãe.”
                Frase comum entre jovens operários de Curitiba. Os referenciais familiares estão noutra cidade, normalmente no interior do Estado.
“Se não praticar o evangelho é melhor não ouvi-lo ou então não ir missa aos domingos.”
                Comentário de animadoras e animadores de comunidades eclesiais.

“Pega esse bagulho”
                Esse bagulho pode ser uma cadeira ou qualquer coisa. Linguagem comum entre jovens na periferia.

“...vai piá...”
                Qualquer filho, qualquer idade, qualquer garoto, qualquer sexo, tudo é piá. Para os pais , os irmãos, os mais velhos...

“Com os seus gestos de amor você está perdoada.”
                Texto da bíblia muito usado nas comunidades nas reflexões sobre o perdão.

“Quer ser roubado, olhe o casal de namorado.”
                Na periferia, uma estratégia de assaltantes é o casal de namorados chamar atenção sobre uma ponte enquanto vem um terceiro e assalta.

“Quer ser roubado, aceite o troco em bala.”
                Pratica comum principalmente no comercio cujos produtos são terminam com valores de noventa e nove centavos. Uma dura realidade que se transformou em ditado popular.