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sábado, 4 de abril de 2015

No Paraná é o primeiro

Eu já vi de tudo nessa vida,
Político que lê mau
Jogador perna de pau
Florista que não é jardineiro.
Poeta que não declama
Amante que não ama
Mas governador encrenqueiro
No Paraná é o primeiro

Já vi todo tipo de brincadeira
Boca de forno e cobra cega,
Gringa grigalha e pega-pega.
Esconde-esconde é bom se for ligeiro.
Pular vara e se esconder
Saltar, gritar e correr
Mas brincar com seu dinheiro
O Paraná é o primeiro.

Eu já vi bicho agir de todo jeito
Bode entrar dentro da casa,
Beija-flor que plaina numa asa
E vaca tossir no terreiro.
Já vi gato mamar em cadela
Passarinho dormir na janela
Mas raposa cuidar do galinheiro
No Paraná é primeiro.

Já vi todo tipo de imitação
Falsificar dólar e o real
Trabalhador mentir que passou mal
Até copiaram o canto do vaqueiro
Já vi juiz marcar gol em futebol
Senador guardar propina em lençol
Mas Estado desviar tanto dinheiro
No Paraná é o primeiro

Vi muitas pessoas se enroscar no seu poder
Medico tratar mal um paciente
Advogado que engana muita gente
uma galinha cantar de galo no terreiro
Já vi um rico sair de mão vazia
E a lavadeira derrubar sua bacia
Mas deputado em camburão, muito ligeiro,
No Paraná é primeiro.


Eu já vi todo tipo de nó cego
Comerciante não emitir nota fiscal
Ditador patrocinar um carnaval
E vi polícia trocar multa por dinheiro
Vi mulher casar sem ter amor
Policial soltar bomba em servidor
Mas governador com fama de caloteiro
No Paraná é primeiro.


Eu já vi todo tipo de covardia
Segurança acusar sem ter razão
Deputados se vender por um milhão
Presidente envergonhar um pais inteiro
Já vi os guardas que protegem a cidade
Bater nas pessoas sem dó ou piedade
Mas chamar professor de baderneiro
No Paraná é o primeiro.


Soube de guerra e conflito no Paraná
No Contestado, governo humilhou o camponês
Defendeu a empresa de um inglês
E prevaleceu o mercado madeireiro.
30 de agosto professores e cavalaria
Ainda sofrem nesses vários dias
Mas três poderes massacrar um povo inteiro
No Paraná é o primeiro.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Para o meu amor



Sabe querida,
Eu não sou um bom compositor
Mas resolvi declarar o meu amor
Somos felizes, nenhuma parte sente dor.


Veja amor,
Fico muito triste vendo a massa angustiada
Que saem as ruas invadem praças e calçadas,
Depois retornam a viver a vida inacabada.


Olha amor,
Eu entreguei minha vida à multidão
Que esbravejou muitas vezes sem razão
Mas não adianta, é seu meu coração.


Sabe amor,
Fui operário, boia-fria e outros mais,
Tive calos grossos como pele de animais
Enriqueci muito doutor cortando canaviais.


Olha amor,
Não há outro jeito, tenho que me unir aos companheiros,
Fazer poesia, bater panela, incomodar os fazendeiros
Não se vender de novo pra aquela gente do dinheiro.


Meu amor,
Infelizmente é tão comum a minha rima
E comum é nossa vida, é nossa sina,
Viver unidos como menino e menina.


Meu amor,
Dezesseis anos de casado e muitas felicidades
Mas a sociedade, ela não nos ama de verdade
Ela nos pune por amar e querer igualdade.


Minha querida,
Agora sou poeta, cronista e servidor,
Estou unido a mulheres e homens de valor
Que na arte libertam-se da angustia e da dor.

Minha vida não é minha



A minha vida não é minha
A tua vida não é tua
A nossa vida não é nossa.
É de Deus!
É do povo!

Madrugada, 1:10 min, 31/07/1992, Zequinha.

Uma cadeira vazia



Num recinto muitas pessoas em pé
uma marcou a poltrona
eu não soube porquê.

O Padre falava sobre igualdade
o poeta um canto de paz
e a poltrona continuava vazia.

Num canto uma mesa com flores de plástico
o alarido e o êxtase de pessoas estáticas
celebram a autoridade que passa
ao lado da cadeira vazia.

O professor concentrado na fala aos estudantes
sua mente vagueia noutras dimensões
quando vê por cima dos óculos
uma cadeira vazia.

Em todo lugar há o que aplaudir
tem pessoas de pé
e um assento marcado.

Um ônibus feito doido na via principal
passageiros sobem e descem, e seguem,
assim ou assado, de pé,
frente de uma cadeira vazia.

Onde estará ele ou ela?
Quem falta nesse lugar?
Não sei quem é, mas
o seu lugar está marcado!

Sarau



A ideologia de pensamento do Sarau
É a linha da diversidade
O reino dos costumes e facetas,
Palco de meias mentiras e meias verdades
Culturas de boêmios e ascetas.


Onde se mistura o certo com o duvidoso
Contraria a lei da química-Sociológica
O terreno que pari um grande poeta
Capaz de ressuscitar a maga patológica
Unir culturas é uma meta.


O sarau é o negro pós abolição
Sem o tilintar das correntes nos pés
quase livre de uma forte estrutura
mas receoso de dizer quem é
transforma em arte a vida dura.


Como não reverenciar a cultura cigana
bailando ao som da libertação da mulher
É o espaço vazio de um mundo lotado
O sarau que aguarda quem quiser
sambar sua arte, dançar sua história, dizer seu passado.
 
Há quem entende o brilho da menina
quem emancipa o jovem, a criança,
Há quem brinque com o remédio
quem se fascina com a esperança.
Quem descrimina o tédio

No sarau há tudo que é mais importante
da cultura, da raça, da cidade,
temos a vida e o brilho do arrabalde,
deles que são nossa alma de verdade
aqueles que nos aplaudem.


O grilo adolescente



Todo grilo faz cri-cri-cri
mas o grilo adolescente
faz crá-crá-crá.


Aprendi a gostar de mim


Desde que me entendi por gente
decidi que não iria gostar de mim
eu não suportava a dor de esfomiado
nem a angústia por ter que ficar calado.

Já que era proibido gritar e espernear
que razão existiria para estar vivo?
Não havia ninguém que pudesse socorrer
a solução menos enfadonha era morrer.

Quem podia me ajudar não tinha poder
quem tinha poder não ajudava ninguém
sai então pelo mundo para conhecer
pessoas como eu para juntos viver ou morrer.

Só que a morte que eu queria ter
não era a morte morrida
muito menos a morte matada
queria a morte organizada.

Fui em busca do caminho certo
para chegar onde queria
E tentando fugir da ditadura
enfrentei uma vida muito dura.

Fui preso nas algemas de estruturas
encarei a sordidez e tentei ser esperto
e cada vez que dava um passo a frente
a ilusão do passado puxava de repente.

Andava com mãos e pés amarrados
estava preso com pregos nos pés
mas a prisão era apenas a ideia de sofrer
foi quando me libertei pra ideia de viver.

E num belo dia vi o que deveria ter visto
que ser livre nada tem haver com prisão
mas com o querer buscar a liberdade
Falar, gritar, em todos os cantos da cidade.

No dia que encontrei com minha gente
ganhei a liberdade e sai da prisão
rasguei o peito e acabei com os segredos
então me livrei da angustia e dos medos.

Nessa história de querer ser de verdade
prisão é lugar comum sem ação
cárcere é para os que matam
mentira para os covardes que maltratam.


Tua hora vai chegar



Um dia,
quando menos esperar,
acontecerá algo novo em sua vida.
você dirá: não é pra mim,
eu não tenho a menor chance!

Só que nesse dia tua vida mudará.
e apesar da dúvida aceitará o desafio.
irá se comparar com algo minúsculo,
de tão frágil, pensará em desistir.
 
Contudo, você não irá desistir
não porque não queira,
e sim, porque esse dia está marcado
para ser sempre lembrado em tua história.

Até que de repente, consciente,
você percebe que pode, e vai
erguer a cabeça sacodir a poeira
ir a luta com nunca pensou que fosse.

Então, de minúsculo e frágil
você se transformará, será forte.
como um ser invencível e inteligente
e abrirá o sorriso mais sorrido da tua vida.

Depois da coragem, de enfrentar o desafio
não é mais o resultado bom que irá querer
mas, poder sempre acreditar que você pode
e a vitória então virá, é questão de tempo.

Mas tenha cuidado, esteja em alerta,
a transformação que você sempre esperou
não acontece se você ficar sentada
sozinha, comendo pipoca no sofá.

A grande mudança da tua vida
será a mesma que surge todo instante
mas nem todos vêem, nem percebem
o brilho do sol que irradia a todos.

Portanto, levante a cabeça
junte-se aos que te amam
pois um brilho iluminará teu caminho
e você será a luz que todos esperam.

O Poeta Popular e as regras métricas


        Sobre a critica dos entendidos em literatura, que os poetas populares não respeitam as regras métricas das poesias, poemas e trovas, e por isso teriam menos valor, respondo que é no campo da identidade popular que encontram espaço para expressar a liberdade através da escrita e da arte.
        Compor e declamar desapegado das regras métricas da literatura clássica é um combustível que faz o grupo crescer no número de participantes, ávidos pela liberdade de escrever e falar o que pensam. Por muitos anos, poesias, poemas, trovas, quadrinhas e crônicas, ficaram escondidas dentro das gavetas por causa da regra métrica.
        Quanto ao valor do texto, ele reside dentro da gente e não fora. O aplauso, a venda do material e outros benefícios, são voluntários, mas deveriam compensar o esforço humano na divulgação da cultura que é um bem imaterial e necessário à sociedade, porém, o guia não é o mercado editorial, mas a comunidade de pessoas, de preferência as mais humildes, onde se expressa a liberdade e a capacidade de contribuir na mudança deste mundo aprisionado pelas regras métricas da vida em geral.
        A regra métrica tem o seu valor, mas ela segrega o pertencimento e o apoderamento porque contraria o poder vigente e a regra preestabelecida. 
       Cientes da condição de excluídos das políticas e programas públicos, poetas e escritores populares estão a vontade para escrever poemas, vivenciar a liberdade de expressão e seu saber poético, marginalizado pelas academias de literatura.
        Os escritores e poetas populares estão felizes por não serem obrigado a escrever com destaques nas capas dos livros, a faculdade onde estudou, honrarias recebidas, formação qualificada que possuem, movimentos que atuam, se são ou não conferencistas, quantos pães com manteiga doaram, as moedas que deram no sinaleiro, para ter o respaldo do mercado editorial.
        Estão felizes por não verem revisor extrair textos simplesmente por discordar da opinião em assuntos específicos ou adicionar ideias e opiniões da mente iluminada de senhores do mercado editorial e vender como se fossem pensamentos de um autor. Felizes porque apresentam a sua essência e não sua dependência.
        É claro que há poetas e escritores populares que desejam produzir literatura para o mercado e essa é uma decisão pessoal respeitada, inclusive o Sarau Popular incentiva as pessoas a se aperfeiçoar, estudar, pesquisar, desenvolver as suas capacidades e habilidades, e isso não dá o direito de quem quer seja desqualificar os poetas, escritores e artistas que desejam apenas expressar o conhecimento, a sensibilidade, o ponto de vista pessoal sobre a natureza das coisas, à sua maneira, livre do jugo infame das regras métricas e de seus asseclas.
        Sobre a contribuição do Sarau Popular para a reabertura da Sala do Poeta. Se isso for verdade prevalecerá a ideia de respeito aos diferentes, participação, processo autônomo e coletivo. O Sarau Popular em sua essência é motivação para qualquer evento cultural e lá as pessoas se reúnem para poetizar, não para planejar políticas públicas ou programas governamentais.
        Não há um movimento sequer que não tenha experimentado o sabor amargo de seus erros ou melhor, como afirmou o filósofo Heráclito num de seus fragmentos, sabemos que a agua de um rio não pode banhar o mesmo homem duas vezes. Se no próximo banho for a mesma agua, o que é impossível, o homem não será o mesmo, mas para ficar ainda mais claro essa ideia, busca-se uma arte e uma literatura onde todas as pessoas sejam valorizadas na sua essência, e a cada momento são melhores e mais importante em razão do movimento natural de suas experiências e ideias.
        Não dá pra aceitar os erros do conceito preestabelecido, os erros da crítica clássica que aniquila as letras populares, os erros da segregação, os erros da classe gramatical de uma cidade que julga ser a única que tem razão. Se aceitar calados esse comportamento divisório, haverá uma contradição à natureza do movimento de todas as coisas, que é retomar a sua essência. Portanto, poetas populares vivem sua essência e somos o retorno bom da malfadada cultura classista e elitista.
        Por fim, que sobreviva todos os poetas, escritores e artistas populares; que sobreviva todos os que mesmo não sendo populares respeitam todas as expressões literárias e culturais. Porém, não desejo a mesma sorte aos críticos que não estão nem aí pra qualidade literária e que se preocupam apenas em doutrinar pessoas na defesa da classe dominante.
       Fica claro que a tônica de qualquer modelo de organização é a justaposição de dois lados. Uma moeda tem dois lados e um dos lados é mais preferido que outro. Não temos pra onde fugir. Qualquer texto vai defender um lado, é assim que funciona. Mesmo que o escritor não queira o seu texto estará defendendo ou o lado que separa e diminui ou o lado que une e soma. É assim a sociedade e nela não tem meio termo. Dá pra perceber de qual lado estão os críticos literários que ora se apresentam. O Sarau Popular está do lado de quem une e soma.
       Assim seja! Eu e os venenos da minha língua não gostamos de sepulcros caiados!

Poesia tem nome de mulher

Poesia tem nome de mulher
Poema não tem
Leio-a com emoção
Contemplo-a também.

Noite estrelada
Inspira poesia
Evoca sonhos
Amores e alegria.

Uma melodia perfeita
Da vida à poesia
Faz o coração suar
Mesmo durante o dia.

Quem quer ser melhor do que é
Não conhece poesia
Não vê a força da mulher
E sua ousadia.

A inspiração na poesia
é como a fome e a vontade de comer
comer sem ter fome
não faz o poeta ser.

diálogo sobre Sarau

Numa tarde, o Sarau já terminado

ia pra casa, apressado,
para festejar.

Encontrei um amigo, daqueles
quase desconhecido
e passamos a conversar.

Ele me perguntou, nessa sala
o que rolou?
você pode me falar?

Lhe respondi com alegria
era um sarau de poesia
você pode participar.

Na vila, tem cartazes de montão
tem até no bar do João
é só querer declamar.

Ele me disse: o cartaz eu vi
não fui porque senti
que só alguns podem poetizar.

Nenhuma arte eu sei fazer
poesia então, to pra ver,
um como eu recitar.

Não é que seja proibido,
entrar lá meu amigo,
você há de concordar.

Quantas vezes nessa cidade
teve poesia de verdade
para periferia escutar?

E poeta, então? Vive longe,
é a mesma coisa de um monge
que vive distante a rezar.

Como vou sentar ao lado dos poetas
são pessoas muito corretas
eu nem sei me expressar.

Eu disse: venha assistir,
você vai aplaudir
aquilo que você gostar.

Os poetas são gente boa
são igual qualquer pessoa
que por aqui possa morar.

O meu amigo, não se faz de rogado
esperneou pra todo lado
e continuou a questionar.

Como vou fazer poesia?
vivo mais tristeza que alegria,
tenho mais motivos pra chorar.

Um dia é alguem doente,
noutro, é a cara feia do gerente
prefiro me embebedar.

Então respondi ao amigo
lamento o que acontece contigo
mas, nós somos o poeta popular.

Ele ficou meio desconfiado
olhou pra cima, olhou pro lado
começou pestanejar.

Afirmei então novamente
vai no Sarau, todos ficarão contente,
e tua doença vai curar.

Tem poetas, homens e mulheres,
crianças, adolescentes, do estilo que preferes,
tua mente vai viajar.

Isso posto, o amigo interrompeu,
veja o erro que você cometeu
Poeta mulher? Começo a duvidar.

O que existe é poetiza
ninguém diz "a chuva é uma briza"
e passou a questionar.

Foi como se um espírito inteligente
tivesse povoado sua mente
e eu, de boca aberta a escutar.

Estilos informais e outros da literatura
gramática, métrica, coisas da ditadura,
onde meu barco fui ancorar?


Em que pese, recitar é difícil demais
escrevo poemas clássicos, romances e algo mais
nunca quis publicar.

Mas, o que sinto de verdade,
é o preconceito da cidade
contra a arte popular.

Sou um escravo da rima
sempre quis "em riba" invés de emcima
palavras da minha cultura não posso usar.

Ao meu amigo falei entusiasmado
o Sarau é um espaço sagrado
é só você vir, pode acreditar.

Aqui você pode expor sua convicção
se tua arte vir de dentro do coração
você será aplaudido no Sarau Popular.