Total de visualizações de página

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Reflexão

Quem mata sabe porque mata, quem morre não sabe porque está morrendo.

----

Quem é Nosso Senhor?
Um termo muito usado hoje em dia nas igrejas, apenas nas igrejas, mas já foi muito usado na sociedade, sobretudo na sociedade escravocrata onde havia a figura social do senhor, do amo. Ao que parece os senhores de engenho se tornaram donos dos trabalhadores. Não somente dono da mão de obra, mas do corpo. E se não bastasse, ao fazer o trabalhador comer, beber, vestir e falar do jeito que o patrão queria, se tornou dono da alma do trabalhador. Dessa maneira então os negros viraram escravos. Os patrões tornaram-se Senhor e eram assim chamados pelos escravos. Essa consideração de Senhor e Escravo é uma representação da sociedade proposta pela igreja católica e pela igreja protestante. Ambas pregam a submissão do homem ao senhor numa alusão ao mundo espiritual, porém por alguns anos essa submissão tornou-se uma prática, um sistema fundamentado numa doutrina religiosa, o que tornou a escravidão, algo muito terrível e penoso. Para piorar, essa doutrina determinava até a vida após a morte. Dependendo da atitude do escravo verificava-se como seria sua vida no inferno, no céu ou no purgatório. diga-se de passagem que o inferno passou a ser descrito como uma imagem horrível, muito sofrida, com um senhor muito malvado, que não tinha chicote, tinha chifres.
Nas igrejas católicas e evangélicas, a liturgia de ambas traduz-se em rituais onde uma pessoa é escrava de um senhor, dependente do outro. Uma liturgia que determina o sofrimento e a pobreza do servo como sendo atalho para santidade. O problema nessa liturgia é que o servo sofre e vive como pobre, mas o senhor não. A santidade do senhor é alcançada pelo sacrifício do servo. Tanto que nos rituais o senhor veste-se de roupas marcadas com ouro, usa instrumentos de ouro e os servos para tocar nos instrumentos deve usar algo como luva. Vemos portanto que pobreza e sofrimento são condições para santidade. Quase apregoando que é necessário sofrer para haver bondade, que é necessário ter pobres, servos, sofredores para existir senhores e que isso é vontade de Deus.
A pobreza é outro elemento usado como atalho para santidade e em sociedades anteriores temos muitos costumes do Estado e das igrejas que revelam uma parceria nesse aspecto.
A Curitiba que escolheu os nomes para as ruas do triângulo da Lindóia, marca no centro do mapa geográfico da cidade, é a Curitiba da sociedade que vive a prática da doutrina da subserviência do pobre e do sofredor a um rico e sadio. Esse rico e sadio é o senhor, são poucos como eles. Eles dominam a cidade, o Estado, o país, e tudo que há neles. Nada na cidade acontece sem a anuência desses senhores, eles são os únicos presentes na história da construção da cidade.
Os parques, as avenidas, os prédios, os hospitais, as escolas, tudo que é grande e vultuoso é criado graças a benevolência do senhor.

Um lugar marcado

Autor:        José Domingos

 


 

Estavam muitas pessoas em pé

uma marcou uma poltrona

eu não soube porquê.

 

O Padre falava sobre igualdade

o acólito tocou o sino do silêncio

e o banco continuou vazio.

 

O poeta declamou o poema da paz

pediu o fim do genocídio dos palestinos

e na platéia um assento continuou vazio.

 

Num canto da sala uma mesa com tampo de mármore e flores de plásticos

o alarido e o êxtase de pessoas estáticas

receberam a autoridade que passou sorridente ao lado da cadeira marcada.

 

Um ônibus correu feito doido na canaleta

e nas paradas, as pessoas subiram e desceram, e seguiram,

assim ou assado, em frente a um assento vazio.

 

A professora concentrou-se na fala aos estudantes

não percebeu que sua mente navegava noutras dimensões

e observou por cima dos óculos uma cadeira vazia.

 

Onde estava ele ou ela?

Quem estava faltando?

não sei quem é, mas o seu lugar estava marcado.

Em todo lugar tem uma arte para aplaudir

uma plateia com pessoas em pé

e uma cadeira marcada.

Sala de Espera

Na vida temos dois momentos que sempre estão presentes. Momento da vitória e o da derrota. A vitória a gente celebra e a derrota a gente lamenta.

Nenhuma dor ocorre de uma só vez. Há um processo. Se lembrar da dor, dói. Ao pensar a dor, dói. Mas, quando ocorre o acidente, a dor chega devagarinho, até chegar ao limite.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Crônica do pedágio



            Juvenal seguia para a praia de Guaratuba, parou na Praça de Pedágio. Olhou para a cobradora e disse:
            - Eu não tenho dinheiro.
            - Como?
            - Eu não tenho dinheiro!
            - Então o Senhor não pode passar.
            - Como não posso passar?
            - O Senhor, sendo motorista, deve saber que o pedágio é obrigatório nessa estrada.
            - Sim, eu sei. Mas eu não tenho nenhum dinheiro e preciso ir até a praia.
            - Como o Senhor vai até a praia sem nenhum dinheiro?
            - O único dinheiro que tinha gastei em combustível.
            - Então o Senhor aguarda um instante que um funcionário da concessionária vai atendê-lo.
            - Sim Senhora!
            Logo chegou o funcionário e disse-me:
            - A cancela vai abrir, o Senhor estaciona naquele canto.
            - Tudo bem!
            Atravessei a cancela e estacionei no canto ordenado.
            Logo apareceu mais um funcionário para me interrogar.
            - Senhor, o pagamento de pedágio é obrigatório e nenhum carro pode passar sem pagar a taxa.
            - Eu sei que é obrigatório, mas eu não tenho dinheiro.
            - Então, lamentavelmente, o Senhor terá que retornar.
            - Só porque não tenho dinheiro pra pagar o pedágio?
            - Sim Senhor!
            - Lamentavelmente, eu não posso retornar. Tenho uma hora pra chegar até Guaratuba.
            - Se o Senhor transportasse uma pessoa doente ou houvesse algo grave que pudéssemos ver, deixaríamos o Senhor passar.
            - Pois bem! Felizmente não transporto nenhuma pessoa doente e graças a Deus não há nenhum problema grave, nem com minha pessoa nem com meu automóvel. O único problema é que não tenho dinheiro para pagar o pedágio.
            - Se o Senhor vai para praia, como poderá se divertir sem nenhum dinheiro.
            - A diversão é opcional e têm muitas alternativas de diversão na praia.
            - Mas o Senhor teve que encher o tanque do carro. Fez isso sem dinheiro?
            - Não! Mas pude escolher o posto de gasolina mais barato e economizar.
            - Olha Senhor, quem não tem dinheiro não vai a praia.
            - Negativo. A praia aceita todas as pessoas. As que têm e que não tem dinheiro.
            - Quero dizer, Senhor, que pra ir á praia é preciso ter dinheiro para cobrir alguns gastos obrigatórios, por exemplo, o pedágio.
            - Sim, mas todos os gastos me apresentam alternativas de escolha e formas de pagamento... Queria ir por outro caminho, mas o único que existe é esse.
            - Lamento, mas o Senhor terá que retornar!
            - Eu não posso retornar, tenho que seguir até a praia.
            - Então terei que chamar a Polícia.
            - Acho melhor!
            Tomei um cafezinho de uma garrafa térmica, e depois de um tempo chegou uma viatura da Policia Rodoviária, com dois policiais.
            - O que se passa?
            - Esse cidadão vai a praia e não quer pagar o pedágio. Ele já afirmou que não há ninguém doente no carro e não tem nenhum problema aparente que justifique a isenção da taxa.
            - Porque o Senhor não que pagar?
            - Porque não tenho nenhum dinheiro.
            - Mas o Senhor sabe que a taxa de pedágio é obrigatória e o não pagamento pode implicar em multa.
            - Sim, eu sei. Mas eu não tenho nenhum dinheiro, tenho que chegar a praia e este é o único caminho por onde posso ir.
            - Sabia que poderíamos prendê-lo?
            - Mas, e as outras pessoas que estão no carro. Também serão presas?
            - ficariam detidas?
            - Só porque não tenho nenhum dinheiro?
            - Não! Porque o Senhor se omite em pagar a taxa obrigatória.
            - Senhor guarda! O dinheiro que tenho está contado. Um tanto pra comida, outro pra bebida, outro para o combustível de volta.
            - Porque não contou com a parte do pedágio?
            - Porque as despesas que citei são necessárias e posso escolher o valor e o local de adquiri-las!
- Pois bem, o pedágio é uma lei e o Senhor terá que cumpri-la. Senão terei que multá-lo.
O funcionário perguntou:
            - Senhor guarda. E quem vai pagar a taxa de pedágio?
            - Se ele não tem dinheiro, nada posso fazer. Só posso multá-lo.
            Perguntei:
            - Qual a infração que cometi, Senhor guarda?
            - Desrespeito a lei.
            - Senhor policial. Toda lei é obrigatória mas apresenta alternativas para cumpri-las.

Hipocrisia Social



Desligue a TV e o rádio
feche o jornal e a revista
e vem pra rua.

Eles aumentam o medo
enaltecem o crime e o terror
e te prende dentro de casa.

Vem pra rua!
Na rua a vida pulsa
tem alegria em todos os lugares
basta querer ver e reconhecer.

Tem teatro no paiol,
futebol na suburbana
poesia no sarau
raia na periferia
e luz artificial.

O milagre do padre cantor,
a lágrima da beata piedosa,
a ladainha de todos os santos,
são celebrados nas igrejas de portas abertas pra rua.

Vem ouvir na rua,
o coro das doces vozes angelicais,
a expulsão de espíritos imundos,
o murmúrio da coleta da prosperidade,
e os pastores enrouquecidos.

Você vai se encantar
com o rufar dos tambores,
e o chacoalhar dos escapulários das mães de santo,
nos disfarçados terreiros de umbanda.

Que belo ver na praça
os jovens se pegando,
crianças brincando de pega-pega,
famílias inteiras e meias famílias,
jogando conversa fora.

Desencruze os braços da janela
desça do andar de cima
venha viver a cidade.

Você não é a moça de porcelana da janela
que não sente a cidade,
apenas faz de conta que vê.
E, ainda assim, comenta e fofoca,
como os jornais e revistas.

Vem ver os bêbados 
cambaleando,
querendo ir pra casa,
mas a rua os segura e dá uma rasteira.
nem dos bêbados a rua desgruda.

os carros estão na rua
pra lá e pra cá,
tem chapas descarregando caixas,
alunos vindo da escola
e indo pra qualquer lugar.

tem o mecânico fazendo chupeta num carro estragado,
o carrinheiro que passeia com o seu trololó
enquanto isso, mulheres fazem compras.

cabe tudo isso na rua,
e tanto faz se a rua é estreita ou sem saída.
a rua é pública.

Na rua,
até o bandido é livre e inocente,
e o moço bom vira safado.

Vem conhecer a rua sem medo
porque a polícia protege o Estado
o segurança protege a propriedade
você protege a liberdade.

O soldado está marchando no quartel,
não vai te dar um tiro por engano.
o religioso está pregando no templo,
o professor está ensinando na escola,
e não estão preocupados com você.
a prostituta está esperando na esquina,
essa sim, é fiel à rua.

Vem pra rua,
vem brincar de ser feliz
e celebrar como nunca
a hipocrisia social.

A rua é o reino das meias verdades
que nascem das meias mentiras
vividas dentro de casa.

Vem ver os projetos de homens e mulheres,
os simulacros de autoridade
os pseudos ricos
os pobres afortunados
e a maioria dissimulada.

venha viver a rua,
se intoxicar de cidade,
e consumir a alienação,
o mais perfeito e sublime
produto da sociedade.

                     José Domingos da Silva

30 de agosto


Todo dia 30 de agosto
na chuva ou no sol expostos
Professores e Funcionários de escola
estão na rua, não pra pedir esmola
mas, uma política que nos dê gosto.

Uma política séria pra educação
que honre o Professor na sua profissão
e valorize o funcionário, companheiro,
o técnico, a inspetora e o porteiro,
que também educam sem distinção.

Temos que lembrar, não podemos esquecer,
na Praça da Salete, Professores tiveram que padecer,
por ordem de um mal governador
que desonrou o Estudante e o Professor
e a toda categoria fez sofrer.

Nunca esqueçam Funcionários e Professores
que foi ali uma praça de horrores
quando a cavalaria sem dó nem piedade
veio calar os gritos de liberdade
por vontade do governador.

O tempo passa e temos que ter cuidado,
o Paraná não pode ser governado
por quem odeia a educação
por quem dirige na contramão
e trata o estudante como coitado.

Educadores na rua pra lembrar
o injusto governo militar,
que quis nos calar na porrada,
preferiu ensinar com palmada
mas nós queremos é o poder de participar.

Essa caminhada é um ato
organizado pelo nosso sindicato,
que representa a nossa categoria
nunca dorme, está sempre de vigília,
e defende a educação de fato.

Oh! Governador! Vós que sois candidato!
faça um favor, redija um último ato.
melhore o salário do educador
pelo menos uma vez, honre teu eleitor,
que está envergonhado por ter votado no Senhor!

Salve 30 de agosto! Dia da Resistência.

José Domingos da Silva