Quem mata sabe porque mata, quem morre não sabe porque está morrendo.
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Quem é Nosso Senhor?
Um termo muito usado hoje em dia nas igrejas, apenas nas igrejas, mas já foi muito usado na sociedade, sobretudo na sociedade escravocrata onde havia a figura social do senhor, do amo. Ao que parece os senhores de engenho se tornaram donos dos trabalhadores. Não somente dono da mão de obra, mas do corpo. E se não bastasse, ao fazer o trabalhador comer, beber, vestir e falar do jeito que o patrão queria, se tornou dono da alma do trabalhador. Dessa maneira então os negros viraram escravos. Os patrões tornaram-se Senhor e eram assim chamados pelos escravos. Essa consideração de Senhor e Escravo é uma representação da sociedade proposta pela igreja católica e pela igreja protestante. Ambas pregam a submissão do homem ao senhor numa alusão ao mundo espiritual, porém por alguns anos essa submissão tornou-se uma prática, um sistema fundamentado numa doutrina religiosa, o que tornou a escravidão, algo muito terrível e penoso. Para piorar, essa doutrina determinava até a vida após a morte. Dependendo da atitude do escravo verificava-se como seria sua vida no inferno, no céu ou no purgatório. diga-se de passagem que o inferno passou a ser descrito como uma imagem horrível, muito sofrida, com um senhor muito malvado, que não tinha chicote, tinha chifres.
Nas igrejas católicas e evangélicas, a liturgia de ambas traduz-se em rituais onde uma pessoa é escrava de um senhor, dependente do outro. Uma liturgia que determina o sofrimento e a pobreza do servo como sendo atalho para santidade. O problema nessa liturgia é que o servo sofre e vive como pobre, mas o senhor não. A santidade do senhor é alcançada pelo sacrifício do servo. Tanto que nos rituais o senhor veste-se de roupas marcadas com ouro, usa instrumentos de ouro e os servos para tocar nos instrumentos deve usar algo como luva. Vemos portanto que pobreza e sofrimento são condições para santidade. Quase apregoando que é necessário sofrer para haver bondade, que é necessário ter pobres, servos, sofredores para existir senhores e que isso é vontade de Deus.
A pobreza é outro elemento usado como atalho para santidade e em sociedades anteriores temos muitos costumes do Estado e das igrejas que revelam uma parceria nesse aspecto.
A Curitiba que escolheu os nomes para as ruas do triângulo da Lindóia, marca no centro do mapa geográfico da cidade, é a Curitiba da sociedade que vive a prática da doutrina da subserviência do pobre e do sofredor a um rico e sadio. Esse rico e sadio é o senhor, são poucos como eles. Eles dominam a cidade, o Estado, o país, e tudo que há neles. Nada na cidade acontece sem a anuência desses senhores, eles são os únicos presentes na história da construção da cidade.
Os parques, as avenidas, os prédios, os hospitais, as escolas, tudo que é grande e vultuoso é criado graças a benevolência do senhor.
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quinta-feira, 25 de setembro de 2014
Um lugar marcado
Autor: José Domingos
Estavam muitas pessoas em pé
uma marcou uma poltrona
eu não soube porquê.
O Padre falava sobre igualdade
o acólito tocou o sino do silêncio
e o banco continuou vazio.
O poeta declamou o poema da paz
pediu o fim do genocídio dos palestinos
e na platéia um assento continuou vazio.
Num canto da sala uma mesa com tampo de mármore e flores de
plásticos
o alarido e o êxtase de pessoas estáticas
receberam a autoridade que passou sorridente ao lado da
cadeira marcada.
Um ônibus correu feito doido na canaleta
e nas paradas, as pessoas subiram e desceram, e seguiram,
assim ou assado, em frente a um assento vazio.
A professora concentrou-se na fala aos estudantes
não percebeu que sua mente navegava noutras dimensões
e observou por cima dos óculos uma cadeira vazia.
Onde estava ele ou ela?
Quem estava faltando?
não sei quem é, mas o seu lugar estava marcado.
Em todo lugar tem uma arte para aplaudir
uma plateia com pessoas em pé
e uma cadeira marcada.
Sala de Espera
Na vida temos dois momentos que sempre estão presentes. Momento da vitória e o da derrota. A vitória a gente celebra e a derrota a gente lamenta.
Nenhuma dor ocorre de uma só vez. Há um processo. Se lembrar da dor, dói. Ao pensar a dor, dói. Mas, quando ocorre o acidente, a dor chega devagarinho, até chegar ao limite.
Nenhuma dor ocorre de uma só vez. Há um processo. Se lembrar da dor, dói. Ao pensar a dor, dói. Mas, quando ocorre o acidente, a dor chega devagarinho, até chegar ao limite.
sexta-feira, 19 de setembro de 2014
Crônica do pedágio
Juvenal seguia para a praia de Guaratuba, parou na Praça de Pedágio. Olhou para a cobradora e disse:
- Eu não tenho dinheiro.
- Como?
- Eu não tenho dinheiro!
- Então o Senhor não pode passar.
- Como não posso passar?
- O Senhor, sendo motorista, deve saber que o pedágio é obrigatório nessa estrada.
- Sim, eu sei. Mas eu não tenho nenhum dinheiro e preciso ir até a praia.
- Como o Senhor vai até a praia sem nenhum dinheiro?
- O único dinheiro que tinha gastei em combustível.
- Então o Senhor aguarda um instante que um funcionário da concessionária vai atendê-lo.
- Sim Senhora!
Logo chegou o funcionário e disse-me:
- A cancela vai abrir, o Senhor estaciona naquele canto.
- Tudo bem!
Atravessei a cancela e estacionei no canto ordenado.
Logo apareceu mais um funcionário para me interrogar.
- Senhor, o pagamento de pedágio é obrigatório e nenhum carro pode passar sem pagar a taxa.
- Eu sei que é obrigatório, mas eu não tenho dinheiro.
- Então, lamentavelmente, o Senhor terá que retornar.
- Só porque não tenho dinheiro pra pagar o pedágio?
- Sim Senhor!
- Lamentavelmente, eu não posso retornar. Tenho uma hora pra chegar até Guaratuba.
- Se o Senhor transportasse uma pessoa doente ou houvesse algo grave que pudéssemos ver, deixaríamos o Senhor passar.
- Pois bem! Felizmente não transporto nenhuma pessoa doente e graças a Deus não há nenhum problema grave, nem com minha pessoa nem com meu automóvel. O único problema é que não tenho dinheiro para pagar o pedágio.
- Se o Senhor vai para praia, como poderá se divertir sem nenhum dinheiro.
- A diversão é opcional e têm muitas alternativas de diversão na praia.
- Mas o Senhor teve que encher o tanque do carro. Fez isso sem dinheiro?
- Não! Mas pude escolher o posto de gasolina mais barato e economizar.
- Olha Senhor, quem não tem dinheiro não vai a praia.
- Negativo. A praia aceita todas as pessoas. As que têm e que não tem dinheiro.
- Quero dizer, Senhor, que pra ir á praia é preciso ter dinheiro para cobrir alguns gastos obrigatórios, por exemplo, o pedágio.
- Sim, mas todos os gastos me apresentam alternativas de escolha e formas de pagamento... Queria ir por outro caminho, mas o único que existe é esse.
- Lamento, mas o Senhor terá que retornar!
- Eu não posso retornar, tenho que seguir até a praia.
- Então terei que chamar a Polícia.
- Acho melhor!
Tomei um cafezinho de uma garrafa térmica, e depois de um tempo chegou uma viatura da Policia Rodoviária, com dois policiais.
- O que se passa?
- Esse cidadão vai a praia e não quer pagar o pedágio. Ele já afirmou que não há ninguém doente no carro e não tem nenhum problema aparente que justifique a isenção da taxa.
- Porque o Senhor não que pagar?
- Porque não tenho nenhum dinheiro.
- Mas o Senhor sabe que a taxa de pedágio é obrigatória e o não pagamento pode implicar em multa.
- Sim, eu sei. Mas eu não tenho nenhum dinheiro, tenho que chegar a praia e este é o único caminho por onde posso ir.
- Sabia que poderíamos prendê-lo?
- Mas, e as outras pessoas que estão no carro. Também serão presas?
- ficariam detidas?
- Só porque não tenho nenhum dinheiro?
- Não! Porque o Senhor se omite em pagar a taxa obrigatória.
- Senhor guarda! O dinheiro que tenho está contado. Um tanto pra comida, outro pra bebida, outro para o combustível de volta.
- Porque não contou com a parte do pedágio?
- Porque as despesas que citei são necessárias e posso escolher o valor e o local de adquiri-las!
- Pois bem, o pedágio é uma lei e o Senhor terá que cumpri-la. Senão terei que multá-lo.
O funcionário perguntou:
- Senhor guarda. E quem vai pagar a taxa de pedágio?
- Se ele não tem dinheiro, nada posso fazer. Só posso multá-lo.
Perguntei:
- Qual a infração que cometi, Senhor guarda?
- Desrespeito a lei.
- Senhor policial. Toda lei é obrigatória mas apresenta alternativas para cumpri-las.
Hipocrisia Social
Desligue a TV e o rádio
feche o jornal e a revista
e vem pra rua.
Eles aumentam o medo
enaltecem o crime e o terror
e te prende dentro de casa.
Vem pra rua!
Na rua a vida pulsa
tem alegria em todos os lugares
basta querer ver e reconhecer.
Tem teatro no paiol,
futebol na suburbana
poesia no sarau
raia na periferia
e luz artificial.
O milagre do padre cantor,
a lágrima da beata piedosa,
a ladainha de todos os santos,
são celebrados nas igrejas de portas abertas pra rua.
Vem ouvir na rua,
o coro das doces vozes angelicais,
a expulsão de espíritos imundos,
o murmúrio da coleta da prosperidade,
e os pastores enrouquecidos.
Você vai se encantar
com o rufar dos tambores,
e o chacoalhar dos escapulários das mães de santo,
nos disfarçados terreiros de umbanda.
Que belo ver na praça
os jovens se pegando,
os jovens se pegando,
crianças brincando de pega-pega,
famílias inteiras e meias famílias,
jogando conversa fora.
Desencruze os braços da janela
desça do andar de cima
venha viver a cidade.
Você não é a moça de porcelana da janela
que não sente a cidade,
apenas faz de conta que vê.
E, ainda assim, comenta e fofoca,
como os jornais e revistas.
Vem ver os bêbados
cambaleando,
querendo ir pra casa,
mas a rua os segura e dá uma rasteira.
nem dos bêbados a rua desgruda.
os carros estão na rua
pra lá e pra cá,
tem chapas descarregando caixas,
alunos vindo da escola
e indo pra qualquer lugar.
tem o mecânico fazendo chupeta num carro estragado,
o carrinheiro que passeia com o seu trololó
enquanto isso, mulheres fazem compras.
cabe tudo isso na rua,
e tanto faz se a rua é estreita ou sem saída.
a rua é pública.
Na rua,
até o bandido é livre e inocente,
e o moço bom vira safado.
Vem conhecer a rua sem medo
porque a polícia protege o Estado
o segurança protege a propriedade
você protege a liberdade.
O soldado está marchando no quartel,
não vai te dar um tiro por engano.
o religioso está pregando no templo,
o professor está ensinando na escola,
e não estão preocupados com você.
a prostituta está esperando na esquina,
essa sim, é fiel à rua.
Vem pra rua,
vem brincar de ser feliz
e celebrar como nunca
a hipocrisia social.
A rua é o reino das meias verdades
que nascem das meias mentiras
vividas dentro de casa.
Vem ver os projetos de homens e mulheres,
os simulacros de autoridade
os pseudos ricos
os pobres afortunados
e a maioria dissimulada.
venha viver a rua,
se intoxicar de cidade,
e consumir a alienação,
o mais perfeito e sublime
produto da sociedade.
José Domingos da Silva
30 de agosto
Todo dia 30 de agosto
na chuva ou no sol expostos
Professores e Funcionários de escola
estão na rua, não pra pedir esmola
mas, uma política que nos dê gosto.
Uma política séria pra educação
que honre o Professor na sua profissão
e valorize o funcionário, companheiro,
o técnico, a inspetora e o porteiro,
que também educam sem distinção.
Temos que lembrar, não podemos esquecer,
na Praça da Salete, Professores tiveram que padecer,
por ordem de um mal governador
que desonrou o Estudante e o Professor
e a toda categoria fez sofrer.
Nunca esqueçam Funcionários e Professores
que foi ali uma praça de horrores
quando a cavalaria sem dó nem piedade
veio calar os gritos de liberdade
por vontade do governador.
O tempo passa e temos que ter cuidado,
o Paraná não pode ser governado
por quem odeia a educação
por quem dirige na contramão
e trata o estudante como coitado.
Educadores na rua pra lembrar
o injusto governo militar,
que quis nos calar na porrada,
preferiu ensinar com palmada
mas nós queremos é o poder de participar.
Essa caminhada é um ato
organizado pelo nosso sindicato,
que representa a nossa categoria
nunca dorme, está sempre de vigília,
e defende a educação de fato.
Oh! Governador! Vós que sois candidato!
faça um favor, redija um último ato.
melhore o salário do educador
pelo menos uma vez, honre teu eleitor,
que está envergonhado por ter votado no Senhor!
Salve 30 de agosto! Dia da Resistência.
José Domingos da Silva
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