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sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Crônica do pedágio



            Juvenal seguia para a praia de Guaratuba, parou na Praça de Pedágio. Olhou para a cobradora e disse:
            - Eu não tenho dinheiro.
            - Como?
            - Eu não tenho dinheiro!
            - Então o Senhor não pode passar.
            - Como não posso passar?
            - O Senhor, sendo motorista, deve saber que o pedágio é obrigatório nessa estrada.
            - Sim, eu sei. Mas eu não tenho nenhum dinheiro e preciso ir até a praia.
            - Como o Senhor vai até a praia sem nenhum dinheiro?
            - O único dinheiro que tinha gastei em combustível.
            - Então o Senhor aguarda um instante que um funcionário da concessionária vai atendê-lo.
            - Sim Senhora!
            Logo chegou o funcionário e disse-me:
            - A cancela vai abrir, o Senhor estaciona naquele canto.
            - Tudo bem!
            Atravessei a cancela e estacionei no canto ordenado.
            Logo apareceu mais um funcionário para me interrogar.
            - Senhor, o pagamento de pedágio é obrigatório e nenhum carro pode passar sem pagar a taxa.
            - Eu sei que é obrigatório, mas eu não tenho dinheiro.
            - Então, lamentavelmente, o Senhor terá que retornar.
            - Só porque não tenho dinheiro pra pagar o pedágio?
            - Sim Senhor!
            - Lamentavelmente, eu não posso retornar. Tenho uma hora pra chegar até Guaratuba.
            - Se o Senhor transportasse uma pessoa doente ou houvesse algo grave que pudéssemos ver, deixaríamos o Senhor passar.
            - Pois bem! Felizmente não transporto nenhuma pessoa doente e graças a Deus não há nenhum problema grave, nem com minha pessoa nem com meu automóvel. O único problema é que não tenho dinheiro para pagar o pedágio.
            - Se o Senhor vai para praia, como poderá se divertir sem nenhum dinheiro.
            - A diversão é opcional e têm muitas alternativas de diversão na praia.
            - Mas o Senhor teve que encher o tanque do carro. Fez isso sem dinheiro?
            - Não! Mas pude escolher o posto de gasolina mais barato e economizar.
            - Olha Senhor, quem não tem dinheiro não vai a praia.
            - Negativo. A praia aceita todas as pessoas. As que têm e que não tem dinheiro.
            - Quero dizer, Senhor, que pra ir á praia é preciso ter dinheiro para cobrir alguns gastos obrigatórios, por exemplo, o pedágio.
            - Sim, mas todos os gastos me apresentam alternativas de escolha e formas de pagamento... Queria ir por outro caminho, mas o único que existe é esse.
            - Lamento, mas o Senhor terá que retornar!
            - Eu não posso retornar, tenho que seguir até a praia.
            - Então terei que chamar a Polícia.
            - Acho melhor!
            Tomei um cafezinho de uma garrafa térmica, e depois de um tempo chegou uma viatura da Policia Rodoviária, com dois policiais.
            - O que se passa?
            - Esse cidadão vai a praia e não quer pagar o pedágio. Ele já afirmou que não há ninguém doente no carro e não tem nenhum problema aparente que justifique a isenção da taxa.
            - Porque o Senhor não que pagar?
            - Porque não tenho nenhum dinheiro.
            - Mas o Senhor sabe que a taxa de pedágio é obrigatória e o não pagamento pode implicar em multa.
            - Sim, eu sei. Mas eu não tenho nenhum dinheiro, tenho que chegar a praia e este é o único caminho por onde posso ir.
            - Sabia que poderíamos prendê-lo?
            - Mas, e as outras pessoas que estão no carro. Também serão presas?
            - ficariam detidas?
            - Só porque não tenho nenhum dinheiro?
            - Não! Porque o Senhor se omite em pagar a taxa obrigatória.
            - Senhor guarda! O dinheiro que tenho está contado. Um tanto pra comida, outro pra bebida, outro para o combustível de volta.
            - Porque não contou com a parte do pedágio?
            - Porque as despesas que citei são necessárias e posso escolher o valor e o local de adquiri-las!
- Pois bem, o pedágio é uma lei e o Senhor terá que cumpri-la. Senão terei que multá-lo.
O funcionário perguntou:
            - Senhor guarda. E quem vai pagar a taxa de pedágio?
            - Se ele não tem dinheiro, nada posso fazer. Só posso multá-lo.
            Perguntei:
            - Qual a infração que cometi, Senhor guarda?
            - Desrespeito a lei.
            - Senhor policial. Toda lei é obrigatória mas apresenta alternativas para cumpri-las.

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