Desligue a TV e o rádio
feche o jornal e a revista
e vem pra rua.
Eles aumentam o medo
enaltecem o crime e o terror
e te prende dentro de casa.
Vem pra rua!
Na rua a vida pulsa
tem alegria em todos os lugares
basta querer ver e reconhecer.
Tem teatro no paiol,
futebol na suburbana
poesia no sarau
raia na periferia
e luz artificial.
O milagre do padre cantor,
a lágrima da beata piedosa,
a ladainha de todos os santos,
são celebrados nas igrejas de portas abertas pra rua.
Vem ouvir na rua,
o coro das doces vozes angelicais,
a expulsão de espíritos imundos,
o murmúrio da coleta da prosperidade,
e os pastores enrouquecidos.
Você vai se encantar
com o rufar dos tambores,
e o chacoalhar dos escapulários das mães de santo,
nos disfarçados terreiros de umbanda.
Que belo ver na praça
os jovens se pegando,
os jovens se pegando,
crianças brincando de pega-pega,
famílias inteiras e meias famílias,
jogando conversa fora.
Desencruze os braços da janela
desça do andar de cima
venha viver a cidade.
Você não é a moça de porcelana da janela
que não sente a cidade,
apenas faz de conta que vê.
E, ainda assim, comenta e fofoca,
como os jornais e revistas.
Vem ver os bêbados
cambaleando,
querendo ir pra casa,
mas a rua os segura e dá uma rasteira.
nem dos bêbados a rua desgruda.
os carros estão na rua
pra lá e pra cá,
tem chapas descarregando caixas,
alunos vindo da escola
e indo pra qualquer lugar.
tem o mecânico fazendo chupeta num carro estragado,
o carrinheiro que passeia com o seu trololó
enquanto isso, mulheres fazem compras.
cabe tudo isso na rua,
e tanto faz se a rua é estreita ou sem saída.
a rua é pública.
Na rua,
até o bandido é livre e inocente,
e o moço bom vira safado.
Vem conhecer a rua sem medo
porque a polícia protege o Estado
o segurança protege a propriedade
você protege a liberdade.
O soldado está marchando no quartel,
não vai te dar um tiro por engano.
o religioso está pregando no templo,
o professor está ensinando na escola,
e não estão preocupados com você.
a prostituta está esperando na esquina,
essa sim, é fiel à rua.
Vem pra rua,
vem brincar de ser feliz
e celebrar como nunca
a hipocrisia social.
A rua é o reino das meias verdades
que nascem das meias mentiras
vividas dentro de casa.
Vem ver os projetos de homens e mulheres,
os simulacros de autoridade
os pseudos ricos
os pobres afortunados
e a maioria dissimulada.
venha viver a rua,
se intoxicar de cidade,
e consumir a alienação,
o mais perfeito e sublime
produto da sociedade.
José Domingos da Silva
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