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terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Ser Popular

SER POPULAR

Ser popular é ser como criança, correr como criança,
soltar raia, chamar atenção e não se preocupar;
imaginar ser um herói quando os outros caçoam de nós,
botar apelido e ser apelidado pelos outros.
É esquecer o patinho feio e voar como águia.

Ser popular é cantar no banheiro,
andar na chuva, mesmo que seja pra desentupir a boca de lobo, na rua;
ajudar a vizinha limpar a sujeira da enxurrada
e chorar junto com ela pelo leite derramado.

Ser popular é andar a pé,
fazer calos no calcanhar por causa do buraco no sapato;
é não se importar com a calça desbotada
nem com a gola da camisa quando desfiada.
É gritar de dor na hora de tirar o espinho do pé.

Ser popular é cantar parabéns pra você,
sorrir das piadas sem graça e brincar em festas de crianças;
é dedilhar um violão sem saber tocar,
é agradecer quando alguém faz um favor.

Ser popular é ir a igreja e olhar para todos os lados,
fazer fila para conseguir as coisas;
se acotovelar pra chegar a algum lugar
é pensar que esta fazendo sucesso e sorrir.
ficar feliz, mesmo que seja na aparência.

Ser popular é acreditar na fidelidade,
criar um gato, um cachorro vira-latas e sentir-se protegido;
ou então se sentir acariciado por quem não sabe o que é afeto.
É dividir tudo, inclusive falar com as flores, pelo menos.

Ser popular é confiar nos políticos,
votar, nem que seja por obrigação,
matar a fome com linguiça e pão francês do Brasil,
é pedir a bênção ao padre e ao pastor
e rezar por aqueles que nos torturam e nos matam.

Ser popular é acreditar no guarda,
Pensar que o agente de transito vai te multar,
que soldado vai salvar a cidade
e acreditar que a ditadura já passou.

Ser popular é ir a escola
levar flores pra professora sem querer nada em troca;
brincar de amarelinha no corredor, na hora do recreio,
e não perder o lanche por nada deste mundo.

Ser popular é reformar as coisas velhas
arrancar na marra, as amarras que prendem nossas mãos;
derrubar muros que separam culturas
crer que a união vence a arrogãncia
e que, quando damos as mãos ficamos mais fortes.

De: José Domingos da Silva

Devocionário - siga e não se arrependerá

Jesus é um negro suave.
Filho de Deus mais Deus.
Deus sem Deus é o humano.

Deus se faz pelo “sim”,
se torna libertador pelo “não”.
não permanecer na vida mortal,
A vida mortal que é eterna
Que dura o tempo que a vida vive.
O tempo da eternidade.

No reino que tem reis e quase não tem rainhas
Tem profeta e quase não tem profetisas
Tem apóstolos e não tem apóstolas
que Foi escrito e desenhado por eles
E elas são apenas coadjuvantes.
Muitos homens e poucas mulheres.
Múltiplas, não únicas.

Tudo que é bom nos pertence
Devemos se apropriar
E todo o mal
Devemos rejeitar
Não mandei ninguém o criar.

Nenhum criador pode arrepender-se
De suas criaturas
Uma vez criado, o mesmo, e só o mesmo,
Tem que cuidar e deve cuidar,
Só quem cria conhece como ninguém
A configuração da criatura
Nada dos outros criarem
Cria de outros
Mesmo o Estado.

As novas que devemos seguir
São as boas, que por sua vez,
São inspiradas nas velhas,
E, na maioria das vezes,
São elas próprias.

Os textos, os artigos, as escrituras,
São escritas por muitos
Nunca por um só,
Por isso são sagradas.

Sagrado é toda criatura
Criada para muitos
Para todos
(o contrario do sagrado) é a imitação
Da criatura.
Criada para um individuo.

Deus é sagrado
O mundo é sagrado
A pessoa é sagrada,
Nada  disso,
Nenhuma dessa propriedade,
Foi criada por si só,
Por isso, ainda, por isso
Tudo isso tem sentido,
e vale a pena lutar
para si e pelos outros e
para todos, com os outros,
mas nunca, lutar por si, apenas para si e sozinho.

A angustia e o cansaço
São sinônimos
Da guerra e da dor
O alivio e a esperança
São sinônimos
Da graça e do amor.

Siga e não se arrependerá.

De: José Domingos da Silva

Não quero igreja, quero religião.


Não quero uma igreja
quero uma religião
que me ajude conectar a Deus
ser um escolhido seu
interagir com a força do coração.

Quero uma religião
que de sentido a minha bondade
que apresente um Deus diferente
dos que vêem só os defeitos da gente
e estreita o caminho da felicidade.

Quero uma religião
que me ensine a crer no amor
expresse em mim a confiança
numa eterna aliança
com o Deus forte e criador.

Quero uma religião
que não me puna se diferente pensar
e ensine que a solidariedade
é um caminho para felicidade
e uma razão para viver e amar.
 
José Domingos da Silva

Cordel dos carrinheiros

Amigos e amigas
Que me ouvem nesta hora
Apresento-me a vocês
Serei breve sem demora
Sou passado sou futuro
Meu sobrenome é agora

A historia aqui descrita
Não sou eu que vou contar
Serão dois personagens
Logo vão se apresentar
Dou uma chance a eles
Vamos ver no que vai dar.

Encontrei-os maltrapilhos
Como tantos por ai
Muita sujeira e fome
Fuligem até o nariz
Catando lixo dia inteiro
Alguem pode ser feliz?

O primeiro camarada
Em resumo é um homem
Tem a boca e as pernas
Para não morrer de fome
O chamam de Primão
É grande igual o nome.

O segundo carrinheiro
é mais magro, é andador
caminha rapidinho
diz que assim não sente dor
Alberto é o seu nome
é nome de doutor.

Um branco outro negro
Os dois são maltrapilhos
Comem pouco e muito mal
Água com farinha de milho
De noite, o luar é a riqueza
De dia só tem o sol e seu brilho.

Prepare-se amigo leitor
Um diálogo vai começar
Ouça bem os carinheiros
Eles tem muito o que ensinar
tomam cachaça mas são sabidos
Um dicionário particular.

Alberto:
Obrigado meu amigo
Por você me escuta,
Descupa meu chero forte
Não tenho roupa pra troca,
Mas vejo que tu é humilde
E não vai se importa.

Primão:
Eu também sô assim
Nada mais tenho a dize.
Ais veis a gente se alegra
E esquece de sofre.
Meu carrinho de papel
Testemunha pra você.

Agora
O que quero de vocês,
Meu amigo carrinheiro,
É que me de sua opinião,
Opinião de caminheiro,
Sobre a cidade Curitiba,
essa cidade dos pinheiros.

Alberto:
Ando cidade a fora,
Vejo de tudo meu irmão.
Barraco do lado de casa chique,
Prédio grande e mansão.
Todo mundo põe muro e grade
E engaiola o coração.

Primao:
É tanta riqueza nessa cidade
Nois num ganha o que merece
Os danados dos dinheirista
Roe uma unha enquanto outra cresce
A gente só na pindaíba
Vive ruim mas não entristece.

Alberto interrompe Primao:
Deixa eu dize uma coisa
Do fundo do coração
Saimo madrugadinha
Pra chega antes do caminhão
Tomamo um gole de cachacinha
Que é pra guentá o rojão.

Diga você que é estudado
se é possível de marchá
por esse asfalto duro
que nossos pés dana rachá
não temo café da manhã
nem como se alimentá.

Primão:
Pra enche um carrinho desse
É preciso sair cedão.
Se sai com o sol alto
A gente perde pro caminhão,
Agora tu já pensou,
Como é duro nosso pão?

Agora:
Agora digam por favor,
O que é mais fácil pra se acha.
Papel pra encher carrinho
Ou um litro de cachaça.
Essa pinga na mão de vocês,
É comprada ou vem na faixa.

Alberto:
Nois vendemo os papel,
E juntamo uns tostão.
Depois em qualquer boteco
Tem pinga de garrafão,
Cachaça de graça pra nois,
Aqui tem disso não.

o caminhão sempre cata
o melhor papel que tem
já tem até gente rica
catando papel também
pelo menos pra cachaça
não falta nosso vintém

Primão:
O papel que a gente junta
Eu nem sei quanto é de dá.
Pelo menos a cachaça
A gente pode comprar,
E quando o lixo é bom
Sobra um pouco pra guarda.

nois compramo essa mardita
não é na faixa não
Ninguem confia em nóis
fiado nem o feijão
carrinheiro em Curitiba
sofre desfeita de montão.

Agora:
Vocês crêem em Deus ou algum santo?
acreditam em religião?
Todas as pessoas do mundo
vivem de fé ou de ilusão
eu creio que Deus existe
vocês crêem na compaixão?

Alberto:
te garanto, nada sei
do negocio de religião.
Gente boa já encontrei
E gente ruim tem de montão
Acredita que outro dia
Ma chamaram de ladrão!

Só porque mexia no lixo
que vai pro caminhão.
Nunca roubei nem matei
porque tanta judiação
Se ganho comida devolvo o prato
Eu sou um bom cristão.

Agora:
Eis aí prezados leitores
que nesse texto se atem
a visão de dois carrinheiros
que andam o dia inteiro
pra ganha pouco vintém.
Esse povo é sofredor
Excluído da sociedade
resgatar seu valor
Em Curitiba ou onde for
é nossa responsabilidade.

Agora:
vou parando por aqui
mas deixo algo a pensar
nesse dia do mês e ano
vamos se organizar
um fórum de discussão
nós podemos começar
pra fazer justiça à arte
e a cultura popular.

De: José Domingos da Silva (Bate papo com dois carrinheiros)

Síndrome do domingo a noite

Domingo a noite
Tenho que sair por aí
Assistir uma peça de teatro
Nem que seja no Teatro Paiol ou
No tablado do Parque São Lourenço.
É a fuga da minha síndrome.

De: José Domingos da Silva

Crônica do pedágio

  Juvenal seguia para a praia de Guaratuba e parou na Praça de Pedágio. Olhou para a cobradora e disse:
            - Eu não tenho dinheiro.
            - Como?
            - Eu não tenho dinheiro!
            - Então o Senhor não pode passar.
            - Como não posso passar?
            - O Senhor, sendo motorista, deve saber que o pedágio é obrigatório nessa estrada.
            - Sim, eu sei. Mas eu não tenho nenhum dinheiro e preciso ir até a praia.
            - Como o Senhor vai até a praia sem nenhum dinheiro?
            - O único dinheiro que tinha gastei em combustível.
            - Então o Senhor aguarda um instante que um funcionário da concessionária vai atendê-lo.
            - Sim Senhora!
            Logo chegou o funcionário e disse-me:
            - A cancela vai abrir, o Senhor estaciona naquele canto.
            - Tudo bem!
            Atravessei a cancela e estacionei no canto ordenado.
            Logo apareceu mais um funcionário e passaram-me a interrogar.
            - Senhor, o pagamento de pedágio é obrigatório e nenhum carro pode passar sem pagar a taxa.
            - Eu sei que é obrigatório, mas eu não tenho dinheiro.
            - Então, lamentavelmente, o Senhor terá que retornar.
            - Só porque não tenho dinheiro pra pagar o pedágio?
            - Sim Senhor!
            - Lamentavelmente, eu não posso retornar. Tenho uma hora pra chegar até Guaratuba.
            - Se o Senhor transportasse uma pessoa doente ou houvesse algo grave que pudéssemos ver, deixaríamos o Senhor passar.
            - Pois bem! Felizmente não transporto nenhuma pessoa doente e graças a Deus não há nenhum problema grave, nem com minha pessoa nem com meu automóvel. O único problema é que não tenho dinheiro para pagar o pedágio.
            - Se o Senhor vai para praia, como poderá se divertir sem nenhum dinheiro.
            - A diversão é opcional e têm muitas alternativas de diversão na praia.
            - Mas o Senhor teve que encher o tanque do carro. Fez isso sem dinheiro?
            - Não! Mas pude escolher o posto de gasolina mais barato e economizar.
            - Olha Senhor, quem não tem dinheiro não vai a praia.
            - Negativo. A praia aceita todas as pessoas. As que têm e que não tem dinheiro.
            - Quero dizer, Senhor, que pra ir á praia é preciso ter dinheiro para cobrir alguns gastos obrigatórios, por exemplo, o pedágio.
            - Sim, mas todos os gastos me apresentam alternativas de escolha e formas de pagamento... Queria ir por outro caminho, mas o único que existe é esse.
            - Lamento, mas o Senhor terá que retornar!
            - Eu não posso retornar, tenho que seguir até a praia.
            - Então terei que chamar a Polícia.
            - Acho melhor!
            Tomei um cafezinho de uma garrafa térmica, e depois de um tempo chegou uma viatura da Policia Rodoviária, com dois policiais.
            - O que se passa?
            - Esse cidadão vai a praia e não quer pagar o pedágio. Ele já afirmou que não há ninguém doente no carro e não tem nenhum problema aparente que justifique a isenção da taxa.
            - Porque o Senhor não que pagar?
            - Porque não tenho nenhum dinheiro.
            - Mas o Senhor sabe que a taxa de pedágio é obrigatória e o não pagamento pode implicar em multa.
            - Sim, eu sei. Mas eu não tenho nenhum dinheiro, tenho que chegar a praia e este é o único caminho por onde posso ir.
            - Sabia que poderíamos prendê-lo?
            - Mas, e as outras pessoas que estão no carro. Também serão presas?
            - ficariam detidas?
            - Só porque não tenho nenhum dinheiro?
            - Não! Porque o Senhor se omite em pagar a taxa obrigatória.
            - Senhor guarda! O dinheiro que tenho está contado. Um tanto pra comida, outro pra bebida, outro para o combustível de volta.
            - Porque não contou com a parte do pedágio?
            - Porque as despesas que citei são necessárias e posso escolher o valor e o local de adquiri-las!
- Pois bem, o pedágio é uma lei e o Senhor terá que cumpri-la. Senão terei que multá-lo.
O funcionário perguntou:
            - Senhor guarda. E quem vai pagar a taxa de pedágio?

De: José Domingos da Silva