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sexta-feira, 3 de abril de 2015

diálogo sobre Sarau

Numa tarde, o Sarau já terminado

ia pra casa, apressado,
para festejar.

Encontrei um amigo, daqueles
quase desconhecido
e passamos a conversar.

Ele me perguntou, nessa sala
o que rolou?
você pode me falar?

Lhe respondi com alegria
era um sarau de poesia
você pode participar.

Na vila, tem cartazes de montão
tem até no bar do João
é só querer declamar.

Ele me disse: o cartaz eu vi
não fui porque senti
que só alguns podem poetizar.

Nenhuma arte eu sei fazer
poesia então, to pra ver,
um como eu recitar.

Não é que seja proibido,
entrar lá meu amigo,
você há de concordar.

Quantas vezes nessa cidade
teve poesia de verdade
para periferia escutar?

E poeta, então? Vive longe,
é a mesma coisa de um monge
que vive distante a rezar.

Como vou sentar ao lado dos poetas
são pessoas muito corretas
eu nem sei me expressar.

Eu disse: venha assistir,
você vai aplaudir
aquilo que você gostar.

Os poetas são gente boa
são igual qualquer pessoa
que por aqui possa morar.

O meu amigo, não se faz de rogado
esperneou pra todo lado
e continuou a questionar.

Como vou fazer poesia?
vivo mais tristeza que alegria,
tenho mais motivos pra chorar.

Um dia é alguem doente,
noutro, é a cara feia do gerente
prefiro me embebedar.

Então respondi ao amigo
lamento o que acontece contigo
mas, nós somos o poeta popular.

Ele ficou meio desconfiado
olhou pra cima, olhou pro lado
começou pestanejar.

Afirmei então novamente
vai no Sarau, todos ficarão contente,
e tua doença vai curar.

Tem poetas, homens e mulheres,
crianças, adolescentes, do estilo que preferes,
tua mente vai viajar.

Isso posto, o amigo interrompeu,
veja o erro que você cometeu
Poeta mulher? Começo a duvidar.

O que existe é poetiza
ninguém diz "a chuva é uma briza"
e passou a questionar.

Foi como se um espírito inteligente
tivesse povoado sua mente
e eu, de boca aberta a escutar.

Estilos informais e outros da literatura
gramática, métrica, coisas da ditadura,
onde meu barco fui ancorar?


Em que pese, recitar é difícil demais
escrevo poemas clássicos, romances e algo mais
nunca quis publicar.

Mas, o que sinto de verdade,
é o preconceito da cidade
contra a arte popular.

Sou um escravo da rima
sempre quis "em riba" invés de emcima
palavras da minha cultura não posso usar.

Ao meu amigo falei entusiasmado
o Sarau é um espaço sagrado
é só você vir, pode acreditar.

Aqui você pode expor sua convicção
se tua arte vir de dentro do coração
você será aplaudido no Sarau Popular.

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