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sexta-feira, 3 de abril de 2015

O Poeta Popular e as regras métricas


        Sobre a critica dos entendidos em literatura, que os poetas populares não respeitam as regras métricas das poesias, poemas e trovas, e por isso teriam menos valor, respondo que é no campo da identidade popular que encontram espaço para expressar a liberdade através da escrita e da arte.
        Compor e declamar desapegado das regras métricas da literatura clássica é um combustível que faz o grupo crescer no número de participantes, ávidos pela liberdade de escrever e falar o que pensam. Por muitos anos, poesias, poemas, trovas, quadrinhas e crônicas, ficaram escondidas dentro das gavetas por causa da regra métrica.
        Quanto ao valor do texto, ele reside dentro da gente e não fora. O aplauso, a venda do material e outros benefícios, são voluntários, mas deveriam compensar o esforço humano na divulgação da cultura que é um bem imaterial e necessário à sociedade, porém, o guia não é o mercado editorial, mas a comunidade de pessoas, de preferência as mais humildes, onde se expressa a liberdade e a capacidade de contribuir na mudança deste mundo aprisionado pelas regras métricas da vida em geral.
        A regra métrica tem o seu valor, mas ela segrega o pertencimento e o apoderamento porque contraria o poder vigente e a regra preestabelecida. 
       Cientes da condição de excluídos das políticas e programas públicos, poetas e escritores populares estão a vontade para escrever poemas, vivenciar a liberdade de expressão e seu saber poético, marginalizado pelas academias de literatura.
        Os escritores e poetas populares estão felizes por não serem obrigado a escrever com destaques nas capas dos livros, a faculdade onde estudou, honrarias recebidas, formação qualificada que possuem, movimentos que atuam, se são ou não conferencistas, quantos pães com manteiga doaram, as moedas que deram no sinaleiro, para ter o respaldo do mercado editorial.
        Estão felizes por não verem revisor extrair textos simplesmente por discordar da opinião em assuntos específicos ou adicionar ideias e opiniões da mente iluminada de senhores do mercado editorial e vender como se fossem pensamentos de um autor. Felizes porque apresentam a sua essência e não sua dependência.
        É claro que há poetas e escritores populares que desejam produzir literatura para o mercado e essa é uma decisão pessoal respeitada, inclusive o Sarau Popular incentiva as pessoas a se aperfeiçoar, estudar, pesquisar, desenvolver as suas capacidades e habilidades, e isso não dá o direito de quem quer seja desqualificar os poetas, escritores e artistas que desejam apenas expressar o conhecimento, a sensibilidade, o ponto de vista pessoal sobre a natureza das coisas, à sua maneira, livre do jugo infame das regras métricas e de seus asseclas.
        Sobre a contribuição do Sarau Popular para a reabertura da Sala do Poeta. Se isso for verdade prevalecerá a ideia de respeito aos diferentes, participação, processo autônomo e coletivo. O Sarau Popular em sua essência é motivação para qualquer evento cultural e lá as pessoas se reúnem para poetizar, não para planejar políticas públicas ou programas governamentais.
        Não há um movimento sequer que não tenha experimentado o sabor amargo de seus erros ou melhor, como afirmou o filósofo Heráclito num de seus fragmentos, sabemos que a agua de um rio não pode banhar o mesmo homem duas vezes. Se no próximo banho for a mesma agua, o que é impossível, o homem não será o mesmo, mas para ficar ainda mais claro essa ideia, busca-se uma arte e uma literatura onde todas as pessoas sejam valorizadas na sua essência, e a cada momento são melhores e mais importante em razão do movimento natural de suas experiências e ideias.
        Não dá pra aceitar os erros do conceito preestabelecido, os erros da crítica clássica que aniquila as letras populares, os erros da segregação, os erros da classe gramatical de uma cidade que julga ser a única que tem razão. Se aceitar calados esse comportamento divisório, haverá uma contradição à natureza do movimento de todas as coisas, que é retomar a sua essência. Portanto, poetas populares vivem sua essência e somos o retorno bom da malfadada cultura classista e elitista.
        Por fim, que sobreviva todos os poetas, escritores e artistas populares; que sobreviva todos os que mesmo não sendo populares respeitam todas as expressões literárias e culturais. Porém, não desejo a mesma sorte aos críticos que não estão nem aí pra qualidade literária e que se preocupam apenas em doutrinar pessoas na defesa da classe dominante.
       Fica claro que a tônica de qualquer modelo de organização é a justaposição de dois lados. Uma moeda tem dois lados e um dos lados é mais preferido que outro. Não temos pra onde fugir. Qualquer texto vai defender um lado, é assim que funciona. Mesmo que o escritor não queira o seu texto estará defendendo ou o lado que separa e diminui ou o lado que une e soma. É assim a sociedade e nela não tem meio termo. Dá pra perceber de qual lado estão os críticos literários que ora se apresentam. O Sarau Popular está do lado de quem une e soma.
       Assim seja! Eu e os venenos da minha língua não gostamos de sepulcros caiados!

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