Sobre a critica dos
entendidos em literatura, que os poetas populares não respeitam as
regras métricas das poesias, poemas e trovas, e por isso teriam
menos valor, respondo que é no campo da identidade popular que
encontram espaço para expressar a liberdade através da escrita e da
arte.
Compor e declamar
desapegado das regras métricas da literatura clássica é um
combustível que faz o grupo crescer no número de participantes,
ávidos pela liberdade de escrever e falar o que pensam. Por muitos
anos, poesias, poemas, trovas, quadrinhas e crônicas, ficaram
escondidas dentro das gavetas por causa da regra métrica.
Quanto ao valor do
texto, ele reside dentro da gente e não fora. O aplauso, a venda do
material e outros benefícios, são voluntários, mas deveriam
compensar o esforço humano na divulgação da cultura que é um bem
imaterial e necessário à sociedade, porém, o guia não é o
mercado editorial, mas a comunidade de pessoas, de preferência as
mais humildes, onde se expressa a liberdade e a capacidade de
contribuir na mudança deste mundo aprisionado pelas regras métricas
da vida em geral.
A regra métrica tem o
seu valor, mas ela segrega o pertencimento e o apoderamento porque
contraria o poder vigente e a regra preestabelecida.
Cientes da
condição de excluídos das políticas e programas públicos, poetas
e escritores populares estão a vontade para escrever poemas,
vivenciar a liberdade de expressão e seu saber poético,
marginalizado pelas academias de literatura.
Os escritores e poetas
populares estão felizes por não serem obrigado a escrever com
destaques nas capas dos livros, a faculdade onde estudou, honrarias
recebidas, formação qualificada que possuem, movimentos que atuam,
se são ou não conferencistas, quantos pães com manteiga doaram, as
moedas que deram no sinaleiro, para ter o respaldo do mercado
editorial.
Estão felizes por não
verem revisor extrair textos simplesmente por discordar da opinião
em assuntos específicos ou adicionar ideias e opiniões da mente
iluminada de senhores do mercado editorial e vender como se fossem
pensamentos de um autor. Felizes porque apresentam a sua essência e
não sua dependência.
É claro que há
poetas e escritores populares que desejam produzir literatura para o
mercado e essa é uma decisão pessoal respeitada, inclusive o Sarau
Popular incentiva as pessoas a se aperfeiçoar, estudar, pesquisar,
desenvolver as suas capacidades e habilidades, e isso não dá o
direito de quem quer seja desqualificar os poetas, escritores e
artistas que desejam apenas expressar o conhecimento, a
sensibilidade, o ponto de vista pessoal sobre a natureza das coisas,
à sua maneira, livre do jugo infame das regras métricas e de seus
asseclas.
Sobre a contribuição
do Sarau Popular para a reabertura da Sala do Poeta. Se isso for
verdade prevalecerá a ideia de respeito aos diferentes,
participação, processo autônomo e coletivo. O Sarau Popular em sua
essência é motivação para qualquer evento cultural e lá as
pessoas se reúnem para poetizar, não para planejar políticas
públicas ou programas governamentais.
Não há um movimento
sequer que não tenha experimentado o sabor amargo de seus erros ou
melhor, como afirmou o filósofo Heráclito num de seus fragmentos,
sabemos que a agua de um rio não pode banhar o mesmo homem duas
vezes. Se no próximo banho for a mesma agua, o que é impossível, o
homem não será o mesmo, mas para ficar ainda mais claro essa ideia,
busca-se uma arte e uma literatura onde todas as pessoas sejam
valorizadas na sua essência, e a cada momento são melhores e mais
importante em razão do movimento natural de suas experiências e
ideias.
Não dá pra aceitar
os erros do conceito preestabelecido, os erros da crítica clássica
que aniquila as letras populares, os erros da segregação, os erros
da classe gramatical de uma cidade que julga ser a única que tem
razão. Se aceitar calados esse comportamento divisório, haverá uma
contradição à natureza do movimento de todas as coisas, que é
retomar a sua essência. Portanto, poetas populares vivem sua
essência e somos o retorno bom da malfadada cultura classista e
elitista.
Por fim, que sobreviva
todos os poetas, escritores e artistas populares; que sobreviva todos
os que mesmo não sendo populares respeitam todas as expressões
literárias e culturais. Porém, não desejo a
mesma sorte aos críticos que não estão nem aí pra qualidade
literária e que se preocupam apenas em doutrinar pessoas na defesa
da classe dominante.
Fica claro que a
tônica de qualquer modelo de organização é a justaposição de
dois lados. Uma moeda tem dois lados e um dos lados é mais preferido
que outro. Não temos pra onde fugir. Qualquer texto vai defender um
lado, é assim que funciona. Mesmo que o escritor não queira o seu
texto estará defendendo ou o lado que separa e diminui ou o lado que
une e soma. É assim a sociedade e nela não tem meio termo. Dá pra
perceber de qual lado estão os críticos literários que ora se
apresentam. O Sarau Popular está do lado de quem une e soma.
Assim seja! Eu e os
venenos da minha língua não gostamos de sepulcros caiados!
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